Ibovespa fecha em queda de 1,09% com influência do Fed

  • 01/08/2019

Ibovespa fecha em queda de 1,09% com influência do Fed

A decisão de política monetária do Federal Reserve trouxe volatilidade ao mercado brasileiro de ações, que seguiu à risca o desempenho instável das bolsas de Nova York. As diferentes interpretações sobre os próximos passos do BC americano conduziram o Índice Bovespa no período da tarde, ampliando o sinal negativo que já predominava desde o período da manhã. Ao final do pregão, o índice teve queda de 1,09%, aos 101.812,13 pontos. Com esse resultado, encerrou o mês de julho com ganho de 0,84%.

O Ibovespa já vinha oscilando em terreno negativo desde o período da manhã, à espera das decisões de política monetária do Fed e do Comitê de Política Monetária (Copom). Mas o pior momento do dia veio justamente após as declarações do presidente do Fed, Jerome Powell. Em um primeiro momento, ele afirmou que a decisão da instituição de cortar a taxa de juros básica do país em 0,25 ponto porcentual, para a faixa de 2,0% a 2,25%, foi um "ajuste no meio de um ciclo" da política monetária. Mais à frente, disse que não é possível afirmar que não haverá outros cortes nos juros à frente.

Na dúvida sobre se haveria ou não mais cortes de juros, as bolsas de Nova York renovaram sucessivas mínimas e o Ibovespa chegou a cair 1,93%, atingindo a marca dos 100.950,36 pontos. Depois que Powell admitiu que novo corte pode ocorrer, houve uma desaceleração em Nova York e no Brasil, mas a volatilidade continuou presente até o fechamento dos pregões aqui e em Wall Street.

As ações dos bancos, bloco de maior peso na composição do Ibovespa, já vinham liderando as quedas desde cedo e também foram as protagonistas nos piores momentos do pregão. No fechamento, o Índice Financeiro (IFN), que reúne 17 ações de bancos, previdência e seguros, teve queda de 1,96%, bem acima do Ibovespa e dos demais índices setoriais. Nesse grupo, os destaques foram Itaú Unibanco (-2,66%), Bradesco ON (-3,39%) e Bradesco PN (-2,54%).

Para Pedro Galdi, analista da Mirae Asset, a decisão do Fed e as declarações não mudam muito o cenário para o mercado brasileiro, que continuará a monitorar indicadores econômicos e questões comerciais entre Estados Unidos e China, em busca de pistas sobre os próximos passos do BC americano. "O corte de 0,25 ponto ficou dentro do esperado e as atenções agora se voltam à reunião do Copom. O mercado espera um corte de 0,50 ponto na taxa Selic. Se isso não acontecer, a quinta-feira será de ajustes", afirma. À noite, como esperado, o Copom divulgou corte da Selic de 0,50 ponto para 6% ao ano.

Mas, mais que a decisão do Copom, ressalta Galdi, o mercado aguarda mesmo são medidas fiscais e de incentivo à economia. "O mercado espera que o governo faça a parte dele, com um conjunto de medidas que se espera depois da aprovação da reforma da Previdência. Se a reforma não avançar por algum motivo, acaba o ano", afirma.

Dólar

O dólar teve um dia volátil nesta quarta-feira, primeiro influenciado pelo fechamento do referencial Ptax (usado em contratos cambiais) de julho, que pressionou a moeda americana para baixo, e em seguida pela reunião de política monetária do Federal Reserve (Fed, o banco central dos Estados Unidos), que fez a divisa bater máximas, chegando a R$ 3,82 - valor que não era negociado desde o último dia 5, quando foi a R$ 3,83 durante as operações. No final dos negócios, o dólar à vista fechou em alta de 0,75%, a R$ 3,8199, o maior nível desde o fechamento do dia 3.

Em julho, a moeda acumulou desvalorização de 0,53%, o segundo mês consecutivo de queda. No ano, a queda é de 1,33%.

"De manhã foi a Ptax que segurou o dólar para baixo, à tarde, foi o exterior", observa o responsável pela área de câmbio da Terra Investimentos, Vanei Nagem. O final da reunião do Fed, o evento mais esperado da semana no mercado internacional de moedas, acabou fortalecendo o dólar no exterior, com efeito imediato aqui. Primeiro, porque o corte de juros nos EUA, o primeiro em uma década, foi decidido com dois votos contra a redução, sinalizando que os dirigentes estão menos dispostos a reduzir as taxas pela frente. O banco Credit Suisse espera que só haja este corte nos EUA em 2019.

Em seguida, após a divulgação do comunicado, na entrevista à imprensa, o presidente do Fed, Jerome Powell, disse que o corte anunciado era apenas um "ajuste" e não o início de um ciclo de cortes. Neste momento, a moeda bateu em R$ 3,82. Logo depois, Powell explicou sua fala e disse que se referia a um ciclo longo de cortes, o que fez a divisa perder fôlego. O DXY, que mede o comportamento do dólar ante divisas fortes, bateu sucessivas máximas após a reunião, chegando a 98,683 pontos.

Para o economista de Estados Unidos do banco alemão Commerzbank, Bernd Weidensteiner, a grande questão que ficou após a entrevista de Powell foi sobre a extensão dos cortes de juros nos EUA, se será mesmo só essa redução, corrigindo a alta de juros feita em dezembro, ou se haverá mais pela frente. "Powell parece indicar que o Fed está inclinado na direção de entregar menos acomodação na política monetária do que o esperado", ressalta ele, destacando que o presidente dos EUA, Donald Trump, não deve ter ficado muito feliz com os comentários do presidente do Fed. Trump tem defendido cortes mais agressivos de juros pelo Fed.

"O Fed entregou um corte de juros menos 'dovish' que o esperado", afirma o estrategista de moedas do banco de investimento Brown Brothers Harriman (BBH), Win Thin, em e-mail comentando a decisão do Fed. O comunicado e as declarações de Powell, ressalta ele, sinalizam que o Fed "não parece estar com pressa de cortar os juros de novo", o que ajudou a fortalecer o dólar.

Taxas de juros

Com uma arrancada na reta final dos negócios, na esteira de declarações do presidente do Federal Reserve, Jerome Powell, os juros futuros encerraram a sessão regular desta quarta-feira em alta, acompanhando o movimento de fortalecimento do dólar. A despeito de uma maior movimentação, sobretudo na última hora de pregão, a liquidez ainda foi reduzida, com investidores sem disposição para alterar de forma significativa as apostas para a decisão do Comitê de Política Monetária (Copom) ainda nesta quarta. À noite, como esperado, o BC divulgou o corte de 0,50 ponto da Selic, para 6% ao ano.

Entre os curtos, DI para janeiro 2020 subiu de 5,522% para 5,615%. Na parte intermediária, DI para janeiro de 2021 subiu de 5,417% para 5,500%, enquanto o DI para janeiro de 2023 passou de 6,30% para 6,35%. Na ponta longa, DI para janeiro de 2025 subiu de 6,84% para 6,90%. Na máxima, atingiu 6,92%.

Apesar da alta das taxas dos contratos curtos, com alguma zeragem de posições, foi mantida no pregão a visão majoritária de que o Copom iniciaria o ciclo de afrouxamento monetário com um corte da mais robusto da Selic. Cálculos da gestora Quantitas mostraram que as taxas espelhavam 66% de chances de corte da taxa básica em 0,50 ponto porcentual, para 6% ao ano, ante 64% no fim da sessão de terça. Para o ciclo total de queda da Selic, também houve redução marginal, de 1,20 ponto na terça para 1,13 ponto nesta quarta.

Enquanto o mercado de juros futuros se inclinava para um corte maior, os economistas se mostraram divididos. De 51 instituições consultadas pelo Projeções Broadcast, 51 esperavam que o início do processo de flexibilização monetária acontecesse em julho, sendo que 26 aguardavam corte de 0,25 ponto, e 25, de 0,50 ponto porcentual.

Como esperado, o Fed anunciou, em seu comunicado, redução dos Fed funds em 0,25 ponto porcentual (para uma faixa entre 2,0% para 2,25%) - o que fez com que os mercado reagissem de forma morna. A novidade veio na entrevista coletiva de Powell. Primeiro, o presidente do BC americano disse que a decisão de cortar os juros era apenas um ajuste no meio de um ciclo de política monetária, o que foi interpretado por investidores como sinal de que não haveria mais redução dos Fed funds. Foi o que bastou para que o dólar ganhasse força globalmente, movimento que respingou no real e acabou levando as taxas futuras a acelerar e atingir as máximas do dia.

Em seguida, Powell pôs panos quentes e afirmou não ter dito que não pode haver outros cortes de juros à frente. Na verdade, o sinal é de que a redução desta quarta não representa o início de um ciclo longo de afrouxamento monetário. Em resposta, o dólar reduziu o ritmo de alta, o que fez as taxas dos DIs se afastarem das máximas.


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